Agva, a cultura está nos detalhes

Agva, a cultura está nos detalhes, by DisQuiet Mary

 

O número 33 da Rua do General Silveira não é apenas um endereço, mas uma atmosfera que dá forma e voz a histórias de vestir. De janela voltada para o coração do Porto, o espaço veio dar lugar ao produto do espírito criativo de Álvaro Fernandes e tornar tangíveis a cultura e identidade da Agva. De resto, matéria, forma e cor aliam-se para inventar experiências únicas. A cada novo objeto convocado para o espaço, uma nova história se desenha. O protagonista desta história é sempre quem usa cada peça como extensão de si mesmo.

 

Álvaro Fernandes, by DisQuiet Mary

 

Sendo uma segunda natureza, as peças são também depuradas até a sua essência. O todo que formam, porém, é sempre muito mais do que a soma das partes que o compõe. A mais simples t-shirt é imaginada para atingir a experiência perfeita: a articulação de matéria e forma para criar uma segunda pele. A matéria prima é criteriosamente selecionada a partir de fibras nobres e a cores obtidas por processos e pigmentos naturais.

 

One size does not fit all

Agva está nos antípodas da produção em massa. No seu ADN encontra-se escrita a customização desde as primeiras peças produzidas em 2009 pela marca: camisas à medida. Hoje, as camisas são apenas um dos produtos que continua a criar. Há blusões, calças, fatos, sapatos ou acessórios. Todos com a mesma identidade depurada, segundo a qual menos, é sempre mais.

 

Agva Collar, by DisQuiet Mary

 

A linha de produtos não é ostensiva e nunca se considera fechada. Os novos elementos desenham-se quando a sua presença faz sentido na natureza, atmosfera e história da Agva. Não são fruto de um exercício tradicional de alfaiataria, em que tudo se arruma e se engoma, mas culto de uma certa medida de rebeldia, decadência e assimetria. Enquanto admiradora eterna da elegância inglesa, do corte italiano ou do luxo francês, mantém-se ancorada à cultura mediterrânica para criar uma envolvência pouco dada a convenções, que se move segundo uma ordem própria, complementar ao seu carisma e atitude.

 

Agva Acetate Sunglasses in Retro Style, by DisQuiet Mary

 

Sapatos, malas e cintos; pulseiras, canetas e óculos; gadgets e outros acessórios têm sido um sucesso entre os que visitam o espaço. Talvez porque entrar e experimentar é já fazer parte desta história, da qual Álvaro Fernandes conhece bem o princípio. É íntimo da emoção presente na conceção de cada peça. Descreve-a demoradamente: cada par de óculos é modelado manualmente, como uma escultura; a curvatura da haste é delicadamente acertada; a aplicação de cada tacha uma obra de precisão. Mas a continuação de cada história é o cliente que a conta.

 

Agva Fitting Room, by DisQuiet Mary

 

Sendo a mais importante causa da Agva, o cliente dispõe ainda, neste espaço, de um conjunto de serviços com diferentes níveis de customização. O bespoke tailoring é um serviço profundamente pessoal e centralizado na escolha de materiais e linhas para criar conforto e harmonia. Trata-se de processos manuais e de precisão, em que o milímetro é rei e em que a colocação de um botão faz toda a diferença. O serviço made-to-measure é também disponibilizado e implica que determinada peça seja já produzida à medida certa para cada cliente.

 

Agva Fitting Room, by DisQuiet Mary

Agva: do Porto para o mundo

O trabalho por medida foi o ponto de partida para desenvolver um conjunto de peças de série com bom corte. O objetivo da marca é que o cliente continue a encontrar na Agva peças que vestem muito bem, em vários tamanhos. Este trabalho permite que a Agva esteja agora presente em lojas nos EUA e em Itália, mas também na plataforma online The Goods from Oporto, abrindo assim uma janela para o mundo.

 

Agva Details, by DisQuiet Mary

 

Quanto à janela que está voltada para o Porto, está também aberta para dentro de si mesma, onde pode admirar-se em cada objeto toda a cultura da Agva. Porque a cultura está nos detalhes. E quando se entende, tudo é tão transparente como a Agva e faz-se parte!

 

The Fashion DisQuiet: a moda e o desassossego

Coco Inside Chanel

Era uma vez… Assim se iniciam todas as histórias e assim The DisQuiet dá aquele que, esperamos, seja o primeiro de muitos passos! O mote vem da tradição, que aparentemente nunca é o que foi, mas é nesta que sempre fundamos as nossas referências. A seu tempo, também essa tradição foi cheia de incertezas e insondável. Passo a passo, veio trazer-nos uma base sólida. Partilhamos uma pequena história da Coco Chanel. Poderíamos partilhar outras, de tão semelhantes que são entre si para a moda e estilo europeus. A história que cada um de nós vai desenhando, que faz de nós humanos e que nos solidifica a cultura. 

A história, sempre repetida, do discreto herói que em determinado momento se releva por um feito extraordinário e quase se eleva à categoria de divindade. E por isso a história da moda é também a história do desassossego dos seus protagonistas e da produção iluminada de objetos de desejo. Essa é a história que aqui queremos contar à medida que acontece. Um presente, com recuos pontuais a um passado que o explica, tentando já daí intuir o futuro.

The DisQuiet dedica-se a essa totalidade inconformada, que não se espartilha pelo vestir, mas pelo ser e pelo estar, pelo sentido do nosso espaço, com lugar à busca incessante de renovação. Porque “sermos apenas do nosso tempo, é estar já ultrapassados”, citando Inonesco. E isto explica também o que a moda é, uma espécie de teatro do absurdo, em que belo e feio se fundem. Em que o banal é também extraordinário e cuja explicação mais coerente talvez resida num mundo imaginário, nas leis que regulam as exceções e no mundo da patafísica.

Esse absurdo, mais não é do que a história da solidão de cada criador e da sua insegurança. Do desassossego permanente que procura de tornar singular cada banalidade. O absurdo de tornar insólito e nunca visto o que já tão visto foi.

É esta a comunhão entre pavor e maravilha que se transforma na permanente estranheza do mundo que a moda é: “uma variação intolerável do horror” que nos faz correr a cada dia para a renovar, como disse Wilde.

São as histórias desse efémero império, na sua inquietude permanente, que aqui queremos ir contado.

Mary & The DisQuiet