20 formas em cinza – Outono Inverno 2016

Formas em cinza? Sim, comecemos pela base. O Pantone 17-3914, também denominado Sharkskin, pode ser combinado com quase todas as cores da paleta deste Outono-Inverno.

Avaliamos o seu efeito à luz contemporânea das primeiras peças da estação disponíveis nas lojas online. A seleção cria um efeito ciaroscuro, pelos diferentes tons de cinza que são a base para as cores e silhuetas trendy da estação.

 

Painel shapes in grey2

SECÇÃO SUPERIOR

SECÇÃO INFERIOR

Agva, a cultura está nos detalhes

Agva, a cultura está nos detalhes, by DisQuiet Mary

 

O número 33 da Rua do General Silveira não é apenas um endereço, mas uma atmosfera que dá forma e voz a histórias de vestir. De janela voltada para o coração do Porto, o espaço veio dar lugar ao produto do espírito criativo de Álvaro Fernandes e tornar tangíveis a cultura e identidade da Agva. De resto, matéria, forma e cor aliam-se para inventar experiências únicas. A cada novo objeto convocado para o espaço, uma nova história se desenha. O protagonista desta história é sempre quem usa cada peça como extensão de si mesmo.

 

Álvaro Fernandes, by DisQuiet Mary

 

Sendo uma segunda natureza, as peças são também depuradas até a sua essência. O todo que formam, porém, é sempre muito mais do que a soma das partes que o compõe. A mais simples t-shirt é imaginada para atingir a experiência perfeita: a articulação de matéria e forma para criar uma segunda pele. A matéria prima é criteriosamente selecionada a partir de fibras nobres e a cores obtidas por processos e pigmentos naturais.

 

One size does not fit all

Agva está nos antípodas da produção em massa. No seu ADN encontra-se escrita a customização desde as primeiras peças produzidas em 2009 pela marca: camisas à medida. Hoje, as camisas são apenas um dos produtos que continua a criar. Há blusões, calças, fatos, sapatos ou acessórios. Todos com a mesma identidade depurada, segundo a qual menos, é sempre mais.

 

Agva Collar, by DisQuiet Mary

 

A linha de produtos não é ostensiva e nunca se considera fechada. Os novos elementos desenham-se quando a sua presença faz sentido na natureza, atmosfera e história da Agva. Não são fruto de um exercício tradicional de alfaiataria, em que tudo se arruma e se engoma, mas culto de uma certa medida de rebeldia, decadência e assimetria. Enquanto admiradora eterna da elegância inglesa, do corte italiano ou do luxo francês, mantém-se ancorada à cultura mediterrânica para criar uma envolvência pouco dada a convenções, que se move segundo uma ordem própria, complementar ao seu carisma e atitude.

 

Agva Acetate Sunglasses in Retro Style, by DisQuiet Mary

 

Sapatos, malas e cintos; pulseiras, canetas e óculos; gadgets e outros acessórios têm sido um sucesso entre os que visitam o espaço. Talvez porque entrar e experimentar é já fazer parte desta história, da qual Álvaro Fernandes conhece bem o princípio. É íntimo da emoção presente na conceção de cada peça. Descreve-a demoradamente: cada par de óculos é modelado manualmente, como uma escultura; a curvatura da haste é delicadamente acertada; a aplicação de cada tacha uma obra de precisão. Mas a continuação de cada história é o cliente que a conta.

 

Agva Fitting Room, by DisQuiet Mary

 

Sendo a mais importante causa da Agva, o cliente dispõe ainda, neste espaço, de um conjunto de serviços com diferentes níveis de customização. O bespoke tailoring é um serviço profundamente pessoal e centralizado na escolha de materiais e linhas para criar conforto e harmonia. Trata-se de processos manuais e de precisão, em que o milímetro é rei e em que a colocação de um botão faz toda a diferença. O serviço made-to-measure é também disponibilizado e implica que determinada peça seja já produzida à medida certa para cada cliente.

 

Agva Fitting Room, by DisQuiet Mary

Agva: do Porto para o mundo

O trabalho por medida foi o ponto de partida para desenvolver um conjunto de peças de série com bom corte. O objetivo da marca é que o cliente continue a encontrar na Agva peças que vestem muito bem, em vários tamanhos. Este trabalho permite que a Agva esteja agora presente em lojas nos EUA e em Itália, mas também na plataforma online The Goods from Oporto, abrindo assim uma janela para o mundo.

 

Agva Details, by DisQuiet Mary

 

Quanto à janela que está voltada para o Porto, está também aberta para dentro de si mesma, onde pode admirar-se em cada objeto toda a cultura da Agva. Porque a cultura está nos detalhes. E quando se entende, tudo é tão transparente como a Agva e faz-se parte!

 

“Ao luar e ao sonho, na estrada deserta”

Porto-Toronto Express

Qualquer texto começa na minha cabeça muito antes de ser publicado. Repetir as ideias, até que estas se esgotem, age como ponderação sobre o supérfluo, na procura da forma mais simples para que cada ideia descreva integralmente a realidade ou a imaginação.

Porém, desta vez, tive mais tempo do que esperava para escrever sobre o projeto Agva, a que é dedicado o próximo post. O intervalo, que se estendeu por várias semanas, tem a sua razão na radical mudança de chão. E porque o DisQuiet é também espelho de uma vida em desassossego, por aqui se conduz um Expresso Porto-Toronto que revive as sensações que Álvaro de Campos descrevia “Ao volante do Chevrolet pela estrada de Sintra”:

Ao volante do Chevrolet pela estrada de Sintra,

Ao luar e ao sonho, na estrada deserta,

Sozinho guio, guio quase devagar, e um pouco

Me parece, ou me forço um pouco para que me pareça,

Que sigo por outra estrada, por outro sonho, por outro mundo,

Que sigo sem haver Lisboa deixada ou Sintra a que ir ter,

Que sigo, e que mais haverá em seguir senão não parar mas seguir?

Vou passar a noite a Sintra por não poder passá-la em Lisboa,

Mas, quando chegar a Sintra, terei pena de não ter ficado em Lisboa.

Sempre esta inquietação sem propósito, sem nexo, sem consequência,

Sempre, sempre, sempre,

Esta angústia excessiva do espírito por coisa nenhuma,

Na estrada de Sintra, ou na estrada do sonho, ou na estrada da vida…

 

Maleável aos meus movimentos subconscientes do volante,

Galga sob mim comigo o automóvel que me emprestaram.

Sorrio do símbolo, ao pensar nele, e ao virar à direita.

Em quantas coisas que me emprestaram eu sigo no mundo

Quantas coisas que me emprestaram guio como minhas!

Quanto me emprestaram, ai de mim!, eu próprio sou!

À esquerda o casebre — sim, o casebre — à beira da estrada

À direita o campo aberto, com a lua ao longe.

O automóvel, que parecia há pouco dar-me liberdade,

É agora uma coisa onde estou fechado

Que só posso conduzir se nele estiver fechado,

Que só domino se me incluir nele, se ele me incluir a mim.

À esquerda lá para trás o casebre modesto, mais que modesto.

A vida ali deve ser feliz, só porque não é a minha.

Se alguém me viu da janela do casebre, sonhará: Aquele é que é feliz.

Talvez à criança espreitando pelos vidros da janela do andar que está em cima

Fiquei (com o automóvel emprestado) como um sonho, uma fada real.

Talvez à rapariga que olhou, ouvindo o motor, pela janela da cozinha

No pavimento térreo,

Sou qualquer coisa do príncipe de todo o coração de rapariga,

E ela me olhará de esguelha, pelos vidros, até à curva em que me perdi.

Deixarei sonhos atrás de mim, ou é o automóvel que os deixa?

Eu, guiador do automóvel emprestado, ou o automóvel emprestado que eu guio?

Na estrada de Sintra ao luar, na tristeza, ante os campos e a noite,

Guiando o Chevrolet emprestado desconsoladamente,

Perco-me na estrada futura, sumo-me na distância que alcanço,

E, num desejo terrível, súbito, violento, inconcebível,

Acelero…

Mas o meu coração ficou no monte de pedras, de que me desviei ao vê-lo sem vê-lo,

À porta do casebre,

O meu coração vazio,

O meu coração insatisfeito,

O meu coração mais humano do que eu, mais exato que a vida.

Na estrada de Sintra, perto da meia-noite, ao luar, ao votante,

Na estrada de Sintra, que cansaço da própria imaginação,

Na estrada de Sintra, cada vez mais perto de Sintra,

Na estrada de Sintra, cada vez menos perto de mim…

11-5-1928   Poesias de Álvaro de Campos. Fernando Pessoa. Lisboa: Ática, 1944 (imp. 1993). _37

Sigo, sem haver Porto deixado, ou Toronto a que ir ter, porque as saudades do meu chão ainda não deixam. Estas são, de resto, inquietações que terei em comum com muitas outras pessoas, que têm vindo a perder o chão para ganhar vida. Mas isso são outros “portugais”, para aqui não chamados.

Como a vida digital não se afeta tanto por mudanças físicas, o que aqui se publica continua as servir o mesmo conjunto de intenções. O corpo e o espírito aguardam pelo dia em que seja menos difícil chamar de seu o chão de tão civilizada terra – a que agora piso. Enquanto isso não acontece, é tempo de “regressar” ao Porto no próximo post.

Bem-vindo ao futuro – o futuro da moda!

The Next Black, AEG.

The Next Black, AEG.

Depois de um breve interregno, para felizes festas, e antes de mergulhar com pleno fôlego no espírito da primavera, tempo para espreitar o futuro. O futuro da moda e do vestir. Para algumas empresas  o futuro é já hoje, como mostra o documentário “The Next Black – A film about the Future of Clothing.

Studio XO, photo © The Next Black, AEG.

Studio XO, photo © The Next Black, AEG.

O documentário de 45 minutos, produzido pela AEG e pela produtora House of Radon, foi elaborado para explorar desenvolvimentos do momento que permitem antever o que a roupa pode tornar-se no futuro. Interroga empresas inovadoras acerca de questões centrais ao consumo das massas: cuidados e questões de qualidade; novas tecnologias; vestir inteligente, organico e tradicional. A resposta é dada por empresas sustentáveis, onde tecnologia se encontra com a moda para criar efeitos  surpreendentes ou para desenvolver peças que enviam dados em tempo real; que produzem materias primas a partir de organismos vivos ou que recorrem a métodos de tingimento que poupam água.

Independentemente da sua opinião pessoal sobre o futuro do vestir, espero que o presente lhe reserve o melhor ano & que seja feliz durante os 366 dias de 2016!

 

 

Pantone cor do ano 2016: Serenity & Rose Quartz

 

Colour Blend Color of the year 2016

Serenity PANTONE 15-3919  Serenity é leve e etéreo, como a expansão do céu azul e convoca sentimentos de serenidade e relaxamento, mesmo em tempos de turbulência.
Rose Quartz PANTONE 13-1520  persuasivo, mas suave. Transmite compreensão e um sentido de compostura. 
Serenity & Rose Quartz definem juntas a cor do ano 2016. São cores harmoniosas e convidativas, que personificam um estado de tranquilidade e paz.

 

Moodboard Concept

 

Os consumidores atuais procuram mindfullness e bem estar como antídotos para o stress da vida moderna e acolhem cores que possam corresponder a essa busca de tranquilidade e segurança. Enquanto o azul Serenity, mais fresco, transmite calma e serenidade leve e etérea como o céu, o Rose Quartz é persuasivo, mas suave. Juntos completam um todo muito maior que a soma de ambos, feito de equilíbrio, mas também desafiam a tradicional perceção sobre associação de cores.

Em muitos lugares do mundo começam a esfumar-se as fronteiras de género no que respeita à moda, o que tem um impacto imediato nas tendências de cor extensíveis a todas as áreas do design. Isto coincide também com os movimentos sociais em prol da igualdade de género e da fluidez, em que a cor é também o conforto de usar a cor como forma de expressão por uma geração menos preocupada com juízos de valor ou com a necessidade de integração num determinado género. As novas abordagens à cor ganham outro ímpeto sob o impulso da informação digital.

É uma seleção de cores simbólica, como uma Polaroid tirada à cultura atual, que serve como expressão de um estado de alma e de uma atitude. Rose Quartz é persuasivo mas suave, como tom transmite compreensão e um sentido de compostura. Serenity é leve e etéreo, como a expansão do céu azul e convoca sentimentos de serenidade e relaxamento mesmo em tempos de turbulência. Este é um sentimento transversal a todas as aplicações da cor, nas suas mais diversas vertentes.

 

Interiores

 

Moodboard Interiores

 

Iniciamos a abordagem à cor do ano pelos Interiores que encorajam a reflexão e ligação natural a um sentido de espaço. Desde tapeçarias aos tecidos, passando pela tinta e acessórios de decoração. As tonalidades dão lugar ao conforto e bem estar dentro de casa. Nas texturas a dualidade acentua-se.

Na cozinha Serenity e Rose Quartz são um clássico: acessórios decorativos, potes decorativos, vasos e floreiras, todos contribuem para o acolhimento e pacificação do espaço. Os acabamentos chave são translúcidos, mates, vidrados e brilhos metálicos.

Outono em estilo definido

Antes que o Outono acabe e antes que a época festiva nos preencha a existência, tempo ainda para trazer alguma cor ao DisQuiet (finalmente), mesmo que em suaves tons, para representar alguns objetos de estilo e de desejo. Shopping guide abaixo.

 

Shopping

Chalayan, casaco em tecido gabardine, de lã e cachemira,  Net-a-PorterBottega Veneta, calças em sarja, com pintas,  Net-a-Porter
Comeforbreakfast camisola de gola alta,  Farfetch Sofia Coppola mala para a Louis VuittonTod’s botins em pele,  Net-a-PorterVivienne Westwood anel em ouro rosa,  Vivienne WestwoodVictoria Bekham óculos de sol, espelhados, em metal,  Net-a-Porter

 

 

The Fashion DisQuiet: a moda e o desassossego

Coco Inside Chanel

Era uma vez… Assim se iniciam todas as histórias e assim The DisQuiet dá aquele que, esperamos, seja o primeiro de muitos passos! O mote vem da tradição, que aparentemente nunca é o que foi, mas é nesta que sempre fundamos as nossas referências. A seu tempo, também essa tradição foi cheia de incertezas e insondável. Passo a passo, veio trazer-nos uma base sólida. Partilhamos uma pequena história da Coco Chanel. Poderíamos partilhar outras, de tão semelhantes que são entre si para a moda e estilo europeus. A história que cada um de nós vai desenhando, que faz de nós humanos e que nos solidifica a cultura. 

A história, sempre repetida, do discreto herói que em determinado momento se releva por um feito extraordinário e quase se eleva à categoria de divindade. E por isso a história da moda é também a história do desassossego dos seus protagonistas e da produção iluminada de objetos de desejo. Essa é a história que aqui queremos contar à medida que acontece. Um presente, com recuos pontuais a um passado que o explica, tentando já daí intuir o futuro.

The DisQuiet dedica-se a essa totalidade inconformada, que não se espartilha pelo vestir, mas pelo ser e pelo estar, pelo sentido do nosso espaço, com lugar à busca incessante de renovação. Porque “sermos apenas do nosso tempo, é estar já ultrapassados”, citando Inonesco. E isto explica também o que a moda é, uma espécie de teatro do absurdo, em que belo e feio se fundem. Em que o banal é também extraordinário e cuja explicação mais coerente talvez resida num mundo imaginário, nas leis que regulam as exceções e no mundo da patafísica.

Esse absurdo, mais não é do que a história da solidão de cada criador e da sua insegurança. Do desassossego permanente que procura de tornar singular cada banalidade. O absurdo de tornar insólito e nunca visto o que já tão visto foi.

É esta a comunhão entre pavor e maravilha que se transforma na permanente estranheza do mundo que a moda é: “uma variação intolerável do horror” que nos faz correr a cada dia para a renovar, como disse Wilde.

São as histórias desse efémero império, na sua inquietude permanente, que aqui queremos ir contado.

Mary & The DisQuiet